Em entrevista: Paula Bobone

Hello darlings!

Se há senhora que não tem pudor em assumir os seus padrões, acessórios e cores é Paula Bobone e pouco lhe importa o que escrevem as revistas sobre o seu estilo. Talvez o seu mediatismo tenha vindo daí, aquela máxima "haters make me famous".

Se a querida quiser usar um vestido roxo, com sombra amarela e sapatos turquesa e se isso no dia a seguir for considerado impensável nos media, é para o lado que a Paulinha dorme melhor.

E por ser assim mesmo, sem quaisquer papas na língua e pronta a afirmar aquilo que pensa no seu íntimo, quisemos falar com ela.

Paula Bobone in Bimba without the Lola.

Visto a sua profissão ser de professora e escritora de protocolo e boas maneiras, acha que os portugueses estão bem educados nessa área?

Dou aulas e assessorias nestas áreas e sinto que as pessoas gostam de aprender e se sentem inseguras nos seus conportamentos. Concluo que ninguém está preocupado em ensinar aos mais novos as regras tradicionais do civismo. 

Portugal exporta uma má imagem não por ser um país pobre mas por ser um país ligeiramente atrasado na sua maneira de estar. Os meios de formação: famílias, escolas e televisões passam uma imagem tosca,são permissivos e deixam os meninos fazerem o que querem. Não têm autoridade nem incutem respeito pelo próximo e mais tarde ou mais cedo retrocedemos e iremos de mal a pior. A barbárie vem a caminho. Não quero dizer que tenhamos falta de qualidades mas é preciso ensinar  as regras do jogo. Com os meus livros e aulas tenho feito algum trabalho nesse sentido mas quem sou eu num país de 10 milhões. Se eu tivesse um programa de televisão ao meu dispôr garanto que isto não ficava assim.

A Paula sendo uma mulher interessada em política se fosse Ministra da Cultura, hoje em dia, o que faria?
Trabalhei nesse ministério mais de 30 anos e percebi que nunca nenhum ministro teve um projecto cultural que nos servisse. Os resultados estão à vista. É um país de gente inculta , meio analfabeta e tristonha, muitas vezes saloia. Nessa remotissima eventualidade tudo faria para juntar esforços com o Ministério da Educação, Câmara Municipal e RTP para concertar uma acção conjunta, sem gastos porque dinheiro não há, para criar um modelo estratégico que trouxesse referências, sentido estético, ético e muita formação cultural ao nosso povo principalmente aos mais novos. Trazer de volta ao povo orgulho e humildade e sobretudo muitos conteúdos. Tenho ideias sobre isso e lhe garanto que a coisa funcionava mesmo.

Qual foi o seu livro best-seller e porque é que acha que foi esse que vendeu mais?
SOCIALMENTE CORRECTO, foi o meu primeiro livro (há 12 anos e já escrevi mais 10). 

O nome foi sublime e os media que ainda estavam nalgum grau de pureza de intenções apoiaram-me imenso. Daí o sucesso. Os restantes livros são igualmente estupendos mas não se comparou o estrondo. Mesmo assim não me queixo. Hoje os media dão apoio de divulgação apenas aos livros das figuras de jornais, televisões, futebois ou escândalos. Literatura mais soft não tem a mesma sorte e a divulgação é que ajuda o sucesso duma obra.

Falando no mundo da moda, que figura pública lhe daria mais prazer poder pegar e fazer a sua assessoria de imagem?

Todas, admitindo que assessoria de imagem não é só roupa e acessórios, cabelos, maquilhagem e unhas. É  A T I T U D E. Isso eu consigo dar aos meus assessorados. 

Saber estar, saber ser, ser-se, é fundamental e assim combater alguma possidoneira que grassa por aí e me entristece. Adoro as questões de imagem e sofro com os conceitos instalados por cá.

Existe para si um fashion icon internacional e nacional? Se sim, quem?
Eu e mais Eu. Conheço gente extraordinária, internacional mas eu não preciso de ninguém para me inspirar. Admito que leio as melhores revistas inglesas e francesas e assim absorvo l'air du temps e isso é que é a moda.
Por acaso até acho que esta nova geração de miúdas até tem alguma graça. Aderem bem ao streetwear que gosto bastante e está na vanguarda das tendências.

Acha que hoje em dia está na moda gostar de moda e ser extravagante ou será só um género?

Estar na moda é ir à frente dela. A moda das roupas acaba quando elas aparecem nas montras e revistas. Se aderes estás fora de moda. Tens que descobrir um estilo e afirmá-lo com ousadia e segurança e ser criativa com tudo o que tens. 

Se copias estás arrumada e se estás à espera que os outros ponham para tu poderes usar a seguir, estás a dar uma de portuguesinha da costa (risos).

Como classifica o seu estilo?

O meu estilo é controlar o meu descontrolo calculado. Quero ser única.
Nada de confusões nem de imitações de meia tigela

O que acha faltar aos portugueses?

Cultura, estudos universitários na área das humanidades, falar bem, saber conversar, serem sorridentes e simpáticos, bem educados e muuuuuito cosmopolitas (vivemos na era da globalização). 

Serem belos e elegantes e bem vestidos não chega. Têm que ter classe e bom ar. Não temos elites que funcionem como referência, eis mais um dos nossos males. Temo dizer que muitas vezes acho tudo uma foleirada mas como tenho um enorme sentido de humor rio-me. E só não desmoralizo porque trabalho na assessoria de imagem, etiqueta, protocolo e gestão de eventos: tudo isto, que é afinal a chave do meu sucesso (risos).

Paula Bobone